quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Considerações sobre Rainha Do Egito

Eu vou dispensar grandes apresentações sobre esta composição de Jorge Mautner gravada por Marcia. Deixarei vocês com as sábias palavras do mestre Leonardo Davino a quem pedi suas considerações literárias sobre esta canção. Ele postou no seu novo blog Lendo Canção e eu copiei pra cá. Apenas deixo aqui os players de ambas versões para que vocês possam entender melhor o que Leonardo vos fala. Divirtam-se:

Jorge Mautner (1976):
Marcia Castro (2007):

"Lançada em 1976, no disco Mil e uma noites de Bagdá, a canção "Rainha do Egito", de Jorge Mautner, recebeu uma gostosa releitura feita por Márcia Castro em Pecadinho (2007).
A versão de Márcia, uma cancionista lúcida e apaixonada pela canção, mantem e confirma o tom debochado, porém a um grau abaixo da versão de Mautner, que destrona o
fantasma épico e a historiografia linear, para coroar e apontar uma genealogia (uma eterna, cíclica e circular criação) do humano.
É deste modo que o sujeito de "Rainha do Egito" compõe seu pecadinho: tomar para si delirantes significantes que, na história, desenham a "verdadeira" rainha de lá. Enquanto o sujeito daqui é "cartomante de esquina" e "bailarina de um cabaré".Com mira e suingue tropicais (um ouvido nos sambas, frevos e batuques; e um ouvido nas disposições eletrônicas atuais), além de uma voz singular, Marcia Castro afetada e é afetada pelo desbunde do hipertropicalista Jorge Mautner: homenageia-o e recoloca-o na genealogia sempre em progresso da canção popular.
Cheia de charme, a voz de Márcia dá vida ao sujeito-rainha-diaba: "Sou uma dessas meninas que namora a lua e o sol (...) Porque o ser humano, seja homem ou mulher é uma eterna criação", diz. Márcia investe em gestos vocais que sensualizam os mitos cantados e põe o ouvinte para dançar: "Tudo menina, menino jóia dançando".
A introdução grandiloquente logo dá início ao nosso dengo brejeiro, praieiro e tropical. Aliás, importa perceber, como apontei acima, que na interpretação de Márcia há menos melancolia do que na versão de Mautner. O que ilumina outros sentidos da canção: outras intenções do sujeito. Afinal, seja como for, o que o sujeito quer é fazer da barra pesada que sempre está chegando mais um motivo de alegria, festa e fé na dança das certezas." (Davino)



Ficam também as dicas para o disco de Mautner e para o blog Lendo Canção de Leonardo Davino.

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